No início do ano de 2004 a Rede Globo mais uma vez fez o que habitualmente faz. Ou seja, posou de puritana e fez mais uma matéria em seu próprio interesse, como se a tal matéria fosse algo de interesse da coletividade.
O leitor desavisado, que a bem da verdade é a grande maioria, que assiste, lê e acredita piamente na Globo, por certo não reparou na hipocrisia da matéria e achou até que a Globo estava coberta de razão, isto porque parecia mais do que justa a terrível campanha da Globo contra a prostituição na orla do Rio de Janeiro. Assunto esse repercutido e aprofundado pela TV Globo, mostrando prostitutas na beira da calçada abordando homens de carros e turistas na calçada, maculando a "boa" imagem do Rio de Janeiro.
De pronto e de imediato, a polícia (que raramente toma providência contra a Globo, mesmo quando se trata de denúncias graves, sérias, comprovadas, como carro roubado, notas frias, etc) assumiu a denúncia da Globo como verdade absoluta e partiu celeremente - como cãozinho amestrado - no encalço e perseguição das "terríveis" prostitutas da orla de Copacabana.
Analisando num primeiro momento, qualquer um poderá concordar com a Globo que realmente é uma afronta e um descalabro a prostituição feita abertamente num dos endereços mais nobres do Rio de Janeiro (calçadão de Copacabana). Afinal, é uma imagem que choca, principalmente quando mostra uma prostituta com um turista que deveria vir ao Brasil para se divertir e não fomentar a prostituição. Mas será que isso é assim mesmo? Não há nada por detrás disso? Poderia a Globo ter algum tipo de interesse que levasse a fazer a tal matéria sobre a prostituição?
É claro que a Globo tem interesse nisso. Caso contrário a Globo nem se daria ao trabalho de fazer a matéria. A Globo sempre tem interesse no que publica. Por mais escabroso que possa parecer, a Globo tem total interesse na denúncia contra as prostitutas. Isto porque, pasmem leitores, as prostitutas (no geral) são clientes da Globo e as prostitutas independentes concorrem com a Globo ao explorarem - sozinhas - a prostituição, causando "enorme prejuízo" à Globo. Isto porque a Globo explora profissionalmente o ramo da prostituição com páginas e páginas de anúncios de prostitutas no jornal O Globo.
Segundo pesquisas sérias de um jornalista, publicado na Tribuna de Imprensa, a exploração de anúncios de prostitutas rende à Globo a bagatela de cerca de onze mil reais por página, em cada edição do jornal, com 120 a 150 anúncios de prostitutas, termas, saunas e massagistas. Convenhamos, é uma quantia mensal considerável a que estamos falando. Algo como mais de três milhões de reais por mês.
A alegação cínica da Globo para justificar a exploração da prostituição sob forma de páginas de anúncios classificados é que "prostituição não é crime". E realmente nisso a Globo tem razão, pois a prostituição, em si, não é crime. Vez que, segundo a lei penal, crime é a exploração da prostituição.
Legalmente, até pode estar certo. Mas, moralmente está muito errado. Estranha lógica esta. Anunciar prostituição pelo jornal, atrair clientela, não é exploração de prostituição. Não é apologia ao crime. É tão somente - embora imoral - um negócio como outro qualquer, com a única diferença de que o negócio comercial, em si, é a prostituição.
A hipocrisia desse assunto é tão grande, tão grande, que se você leitor, for colocar um anúncio no jornal O Globo para contratar um vendedor para a sua empresa, você será repreendido e não poderá colocar no anúncio que você deseja um candidato do sexo masculino (ou feminino, conforme o caso), pois isso é discriminação de sexo. Assim como você não se pode exigir que o candidato(a) tenha boa aparência, pois trata-se de discriminação em relação à condição física.
Vale dizer, você não pode colocar no anúncio que o candidato a emprego deva ser do sexo masculino ou feminino, nem que o candidato deva ter boa aparência, para ser o cartão de apresentação da sua empresa, para conquistar o seu possível cliente. Mas pode colocar, tranqüilamente, que você quer contactar uma gatinha assim assado, que faça isso e aquilo na cama, que tenha tais e quais atributos (abertamente), mesmo que isso seja manifestamente pornografia e abordagem de prostituição.
O jornal O Globo, que já se consagrou por todos os atributos negativos possíveis e imagináveis, indo cegamente na direção do lucro e do comércio a qualquer preço, alucinadamente, com essa hipocrisia, acaba de transformar a Rede Globo em uma mera Rede Globo de programa de prostituição.
por Roméro da Costa Machado, escritor.
-
-
0
comentários
Postar um comentário